tag:blogger.com,1999:blog-77138404310580565012024-03-20T04:40:51.334-07:00Above It AllMariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.comBlogger277125tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-65486667158917817252024-02-29T05:16:00.000-08:002024-02-29T05:42:07.630-08:00273.<p> </p><p></p><p><img alt="Imagem" class="RoN4R tPU70 xhGbM" height="448" loading="lazy" sizes="(max-width: 540px) 100vw, 540px" srcset="https://64.media.tumblr.com/46305e8e3e1cccce6a642203df0a8f18/fc7780ae055b7de7-6b/s100x200/eb0d343696d22ea06d04c543e9c992c291f875ec.jpg 100w, https://64.media.tumblr.com/46305e8e3e1cccce6a642203df0a8f18/fc7780ae055b7de7-6b/s250x400/2b070938c2b86ff8cee45971bb53d9731285b445.jpg 250w, https://64.media.tumblr.com/46305e8e3e1cccce6a642203df0a8f18/fc7780ae055b7de7-6b/s400x600/d8abfdff3b242ea414f0b45603cd13f08e5c92ba.jpg 400w, https://64.media.tumblr.com/46305e8e3e1cccce6a642203df0a8f18/fc7780ae055b7de7-6b/s500x750/18e7b6b36635e1510b962b55b9cee79dd633bcb4.jpg 500w, https://64.media.tumblr.com/46305e8e3e1cccce6a642203df0a8f18/fc7780ae055b7de7-6b/s540x810/9089aaa74cdf2f2763cad2ecd65e3eaa078b02ff.jpg 540w, https://64.media.tumblr.com/46305e8e3e1cccce6a642203df0a8f18/fc7780ae055b7de7-6b/s640x960/e12d5b1986c91653be13196c12da5961b5a84422.jpg 640w, https://64.media.tumblr.com/46305e8e3e1cccce6a642203df0a8f18/fc7780ae055b7de7-6b/s1280x1920/a11d1f0bd9cf00cfa3d516d363fd9465282fa225.jpg 1280w, https://64.media.tumblr.com/46305e8e3e1cccce6a642203df0a8f18/fc7780ae055b7de7-6b/s2048x3072/109c1603932adf24609711658f86b1e4668e41d3.jpg 2048w" width="672" /></p><p><br /></p>Podíamos dizer com acuidade o modo vermelho<p></p><p>com que se vai tecendo a vida</p><p>Encontrando-se o mundo às avessas</p><p>como, de resto, sempre esteve</p><p>a guerra a doença o jovem </p><p>que se imola a flor encardida</p><p>no fim e no começo do anseio</p><p>de outra coisa</p><p>Penso que os cigarros em jejum</p><p>são porventura uma reminiscência</p><p>da infância</p><p>uma vontade também ela incendida </p><p>de recuperar Éden ou algo de semelhante</p><p>ainda claro ainda pronto </p><p>ainda sem vazio ou Queda</p><p>O travo que espraiam nos lábios</p><p>esse fumo diligente</p><p>é modo e figura do coração</p><p>que inconsútil </p><p>desbrava a floresta há muito extinta</p><p>de um amor verde e luminoso</p><p>Ardente sem dúvida </p><p>mas de um fogo reparador </p><p>como aquele que arderia</p><p>no ventre de Eva saciada</p><p>Em tudo igual e distinto </p><p>ao de Aaron Bushnell</p><p><br /></p>Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-6845119327523829332023-05-27T11:07:00.003-07:002023-05-27T11:09:09.311-07:00272. <p><br /></p><p><img alt="rivesveronique:“ Scène d'intérieurJacques Jean2 novembre 1926,autochrome”" height="924" src="https://64.media.tumblr.com/7b0d48fe8ef42ff8a57ed4fb696c7b81/f40e48a2d1809035-bc/s1280x1920/d91175f524c36fa4453951ed80882469bdace532.jpg" width="618" /></p><p><br /></p><p>Tudo começa com uma impressão de Agosto;</p><p>depois vêm umas mãos </p><p>prontas e precisas</p><p>[claro</p><p>que mais demoradamente</p><p>se passam pelas costas</p><p><br /></p><p>Mais do que essa candura</p><p>talvez a promessa há muito</p><p>latindo</p><p>ainda que tíbia</p><p><br /></p><p>Depois julgamos que o amor é e não é</p><p>um enredo um tanto tolo</p><p>um tanto macerado </p><p><br /></p><p>E ainda assim prosseguimos</p><p>cientes do que nos apouca</p><p>do que nos domestica</p><p><br /></p><p>E ainda assim</p><p><br /></p><p>Há sempre a impressão dessas mãos</p><p>essa promessa alhures</p><p>um relicário no meio da floresta</p><p>o sexo reinventado</p><p>saciado talvez sempre fremente e efémero </p><p><br /></p><p>E ainda assim</p><p><br /></p><p>O amor, pois, partido em vários bocados</p><p>as mesmas narrativas a sua insistência no fio</p><p>cansado e triste da memória</p><p>nessa paisagem matutada e maturada</p><p><br /></p><p>As mãos e as costas</p><p>uma labuta eterna a nossa fraqueza</p><p>depois de Agosto</p><p>em não sabermos estar sós</p><p><br /></p>Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-87592880142476565112022-02-28T09:25:00.004-08:002022-02-28T09:25:51.826-08:00271.<p><br /></p><p><img alt="arturpastor:
“Série “Paisagens”. Alentejo, décadas de 40/50.
”" height="640" src="https://64.media.tumblr.com/078cf6ae724383a233f8a50aea04b2e7/tumblr_ow6js23nAJ1tcav4fo1_1280.jpg" width="630" /></p><p><br /></p><p>A todos os que amo</p><p>estendo uma flor branca</p><p>A inocência bem pode </p><p>ser o mais letal veneno -</p><p>Tenho desfeito entre meus dedos</p><p>os caracóis que de meu cabelo</p><p>pendiam outrora</p><p>Neste país estreito </p><p>acordo sempre com a sensação</p><p>de uma guerra fremindo</p><p>Ignorá-la é cruel</p><p>não a ignorar também</p><p>Faço-me Perséfone</p><p>mordo a romã com fome</p><p>e por vezes com fastio</p><p>Procuro a mãe que falha</p><p>a mãe que murmureja </p><p>a indistinta placidez da neve</p><p>Desejo mais e ao mesmo tempo</p><p>coisa nenhuma</p><p>coisa nenhuma</p><p>coisa nenhuma.</p>Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-91539987991787177672021-12-09T10:14:00.002-08:002021-12-09T10:19:15.938-08:00270.<p><br /></p><p><img alt="bookoffixedstars:
“ Banded demoiselles laying eggs on a floating island of aquatic vegetation. Photo by Władysław Strojny (1923 - 1992).
source
”" height="456" src="https://64.media.tumblr.com/994877b1b596fbdbeb3c940edf2bef5d/33a7b855065b1aae-ff/s1280x1920/4c422937bb6255eb1e12094572da6aa73011e513.jpg" width="649" /></p><p>Amor, devias vir.</p><p>Uma árvore é, por vezes, razão suficiente.</p><p>Em dias mais oblíquos, a memória da sua seiva</p><p>a retinir em nossa pele ainda morena</p><p>ainda pronta para a vida,</p><p>num Verão possível e perdido.</p><p>Mas o amor demora-se, sim, como</p><p>reiterando a sua dissonância,</p><p>que é a sua forma de ser fugaz cruelmente.</p><p>Em certos dias, demora-se o mais</p><p>que já esperamos</p><p>[sempre.</p><p>Éramos frescos, sem dúvida.</p><p>Na algibeira havia um pedaço de pão</p><p>e uma noz a morder contra a fome.</p><p>Havia, sobretudo, a ingenuidade </p><p>dos cães vadios,</p><p>do seu latir persistente,</p><p>do doce modo como posicionam o seu corpo</p><p>apesar de faminto</p><p>apesar de gelado.</p><p>Eu queria um destino mais belo, sim.</p><p>Os rapazes partem para Julho como</p><p>para uma grande promessa.</p><p>A juventude vai-se deteriorando,</p><p>parecendo-se cada vez mais</p><p>com um vidro quebrado.</p><p>As mãos já não possuem </p><p>virilidade alguma. As tulipas vermelhas</p><p>aonde ficamos despenhadas </p><p>como na nossa própria menstruação.</p><p>Os rapazes partem ainda, partem sempre.</p><p>Amor, devias vir. Devias procurar</p><p>o âmago aonde late outra coisa</p><p>aonde sou outra coisa</p><p>mais afoita a ti e às tuas medidas. </p><p>Mas tu desconheces. E desconhecendo-me,</p><p>sem saberes, amas-me menos.</p><p>É sempre menos o dia em que acordámos,</p><p>mesmo depois da paixão</p><p>e do frio aconchegado em dois corpos.</p><p>Saber olvidar, por certo.</p><p>Dar um passo que não seja em falso.</p><p>Observar o vidro</p><p>a forma como se quebra</p><p>como se quebra</p><p>em nossas mãos.</p><p>Amor devias vir,</p><p>[se não fosse já tarde.</p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-33995340623177729542021-08-24T04:40:00.000-07:002021-08-24T04:40:06.399-07:00269.<p><img alt="shinjiaratani:
“architecture/sculpture ©SHINJI ARATANI
”" height="839" src="https://64.media.tumblr.com/44cc16a66a36aed5002a41f5a0558dc0/cc617d55efdc3f20-96/s1280x1920/ec19e529708b75372892fc151354d21b2ac478a8.jpg" width="560" /></p><p><br /></p><p>Entre a dúvida e a palavra</p><p>acelero como quem se sente capaz</p><p>finalmente [</p><p>de um despiste</p><p>Estar contra os astros significa apenas</p><p>que trazemos no sangue uma porção</p><p>de nitrato</p><p>invariável</p><p>dolorosa, sem dúvida</p><p>irascível</p><p>A salvação não se encontra nos</p><p>olhos de alguém</p><p> [ainda que radicalmente belos</p><p>não se encontra num ou outro beijo aceso</p><p>não se encontra num certo modo de posicionar</p><p>a bacia ou o anelar ou a omoplata</p><p>Nem sempre havemos de ter força</p><p>às vezes cairemos e o levantar não terá</p><p>lugar no momento seguinte</p><p>Antes demorará, como se demora a mágoa</p><p>na particular cisura do coração</p><p>ou a mansa água de um rio antigo.</p><p>Não te maldigo, querido. Não te estranho.</p><p>A minha pena é sede do nome que me</p><p>deram sabendo e não sabendo </p><p>os motivos que o encerram </p><p>que o impelem à substância última</p><p>à ruptura advinda da dor</p><p>da maresia</p><p>de um gesto atrasado ou por completar.</p><p>A impressão das tulipas </p><p>a sua vermelhidão enjoativa </p><p>o sorriso que desprendem no jarro</p><p>paliativo assassino falacioso</p><p>oh, sim, a impressão que ficou</p><p>depois do amor igual a essas tulipas</p><p>a observar-nos os movimentos </p><p>com a sobranceria de quem olha</p><p>alguém desde cima. </p><p>O terrível ângulo, essa fraca forma</p><p>de insistir no fúnebre sentido que se tornou</p><p>a paixão o seu cavalgar o arquear de umas coxas</p><p>outrora prontas para milagres que no fim de contas</p><p>terminaram desconhecendo</p><p>Ainda não me levanto. Ainda me deixo ficar</p><p>um pouco abaixo do solo</p><p>na rarefeita paisagem da memória</p><p>próxima das raízes das tulipas por arrancar </p><p>da terra</p><p>como fetos que se conservem no útero</p><p>materno</p><p>um pouco abaixo de mim mesma, sim [</p><p>um pouco abaixo da palavra e da fé</p><p>Mas não te maldigo, querido. Não te estranho.</p><p><br /></p>Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-84031186139170674942021-05-06T13:54:00.005-07:002021-05-06T14:09:50.095-07:00268.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://64.media.tumblr.com/0e1508c43775808cef247c3ad8508975/b6d324e39680d991-78/s1280x1920/be0ab3566260ce6ac532d9225201bd9bf8bc07fc.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><br /><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="611" height="788" src="https://64.media.tumblr.com/0e1508c43775808cef247c3ad8508975/b6d324e39680d991-78/s1280x1920/be0ab3566260ce6ac532d9225201bd9bf8bc07fc.jpg" width="602" /></a></div><p><br /></p><p> Simão,</p><p>A linha de comboio parece</p><p>de facto</p><p>em certos dias</p><p>o mais justo destino.</p><p>Mas há a andorinha que</p><p>apesar de tudo</p><p>regressa na Primavera</p><p>e o morcego que</p><p>na sua rota </p><p>um tanto desvairada</p><p>por insectos</p><p>valsa ainda à nossa janela</p><p>Este poema é para ti</p><p>e ainda que fale de morte</p><p>fala, sobretudo,</p><p> [de esperança.</p>Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-21366972424767744932020-11-04T07:37:00.002-08:002020-11-04T07:59:34.717-08:00267.<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijmR2oQs6wgepxP-D_7fOXpYvBEwB3U26lcKZjBKM7dwxsZ2XseBoKjnFJYrUEARCDpq_W3Z8kIaKsoEeHbHsF0b7Zj0P3U7FvX4WP_eQgK471hbPSADet-o4a3URDkfZGw5SuhrXE2vw/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="531" data-original-width="640" height="531" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijmR2oQs6wgepxP-D_7fOXpYvBEwB3U26lcKZjBKM7dwxsZ2XseBoKjnFJYrUEARCDpq_W3Z8kIaKsoEeHbHsF0b7Zj0P3U7FvX4WP_eQgK471hbPSADet-o4a3URDkfZGw5SuhrXE2vw/w640-h531/image.jpeg" width="640" /></a></div><br /> <p></p><p><br /></p><p>Repara: a casa existe </p><p>como uma memória afiada</p><p>desses tempos em que foste</p><p>sim, talvez, francamente feliz</p><p>mas, sobretudo, e apesar disso, miserável.</p><p>Lastimo-me por ti, amiga. </p><p>Estavas fadada a grandes coisas; </p><p>o amor de alguém é um lugar tão difícil,</p><p>o poema como uma valsa por terminar,</p><p>a lua revelando o que só o açúcar promete.</p><p>Mas nada disso te valeu.</p><p>E agora, sim, a casa. A casa </p><p>que te recorda a aspereza da iniquidade: o sangue perdido</p><p>tão ingloriamente que dá dó, </p><p>o sangue, amiga, que julgaste ser prerrogativa da paixão</p><p>e que mais não é senão a fraca inutilidade da juventude. </p><p>Podia ter sido diferente, pensas. Podias não ter quebrado. </p><p>E a casa, o raio da casa, sempre relembrando</p><p>placidamente relembrando</p><p>a violência, o ciúme, a infâmia. </p><p>Lastimo-me por ti, amiga. </p><p>Tens agora a cabeça posta nas ossadas que ficaram</p><p>depois da ruptura</p><p>e que são afinal teu mais confortável e tíbio leito.</p>Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-89120208406071072932020-05-20T13:18:00.000-07:002020-05-21T13:50:37.910-07:00266.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img alt="tesouradasocialclub:
“louis reith
”" height="640" src="https://66.media.tumblr.com/0dbaf119bc691e0b3964965a4ef092fd/3bda04fe71740cde-b9/s1280x1920/a8bea26834fd537aafa383e7877627ae5cde7ab0.jpg" width="472" /></div>
<br />
<br />
<br />
O que está além da minha morte<br />
será uma planta cravada na terra<br />
ou o astro aonde certas crianças vão sorrir.<br />
<br />
Vivo-te e amo-te não sem algum atrito<br />
mas este poema não fala disso<br />
<br />
não serve à magoa<br />
<br />
antes enuncia:<br />
<br />
«Sou da tua boca como se sussurrasse um segredo<br />
muito límpido».<br />
<br />
Amo-te e vivo-te na ideia sempre pulsante<br />
de um útero que se alimenta em pleno meio-dia;<br />
desses víveres feitos à medida de uma palma da mão<br />
de uma fragata contra o vento.<br />
<br />
Amo-te desde longe,<br />
e para longe te levo metido entre meus dentes<br />
por vezes cerrados, por vezes doridos,<br />
outras tantas arrebatados<br />
de te ter beijado uma e outra vez<br />
de te ter beijado eternidade adentro.<br />
<br />
Vezes contadas,<br />
Amo-te permanentemente.<br />
<br />Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-50377314648085916662019-10-09T07:56:00.000-07:002019-10-09T07:56:36.402-07:00265.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOLEXZS3XmObD-nyD2dW2UtSnkMbRY7rAhobFrhCSEzTqgp1wkoLt_5lL-jvXnGYgTcCyNOToqm0CtWdwo-ZIOsVA0k_Cb3lXPcTae1wI3KdyFJ7_pQiA1RAtQASJPGYjjPhd73-AuKY4/s1600/scan0018.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOLEXZS3XmObD-nyD2dW2UtSnkMbRY7rAhobFrhCSEzTqgp1wkoLt_5lL-jvXnGYgTcCyNOToqm0CtWdwo-ZIOsVA0k_Cb3lXPcTae1wI3KdyFJ7_pQiA1RAtQASJPGYjjPhd73-AuKY4/s640/scan0018.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
Ainda em meus dedos o aroma<br />
de minha cona sendo masturbada<br />
no exacto compasso de teu rosto<br />
posto na minha mais profunda<br />
especulação [imaginativa.<br />
<br />
Uma cona que se acaricia com<br />
o tremor da memória de um amor<br />
especular húmido veloz<br />
é sempre uma cona vasta de tristeza.<br />
<br />
Repara:<br />
Isto não me impede de permanecer<br />
acariciando-a<br />
como se nos amássemos ainda<br />
como se houvesse ainda tempo<br />
e espaço e fruição entre nós<br />
<br />
Nós que estamos distantes<br />
como dois amigos tristes<br />
distantes como um país em guerra<br />
distantes como o verão da meninice<br />
tremenda e para sempre queimada.<br />
<br />
Trazemos as mãos<br />
postas em nossos respectivos sexos<br />
longínquos e ardentes e melindrados<br />
arfando de um desejo que é mais ficção<br />
embora nos toque como se fosse verdade<br />
mais ficção como quando se pensa muito<br />
com muita força<br />
em calor<br />
e o corpo<br />
apesar do frio<br />
[aquece.<br />
<br />
E eu masturbando-me<br />
e tu masturbando-te<br />
e o amor como um rugido imenso<br />
perigoso<br />
iconoclasta<br />
o amor como uma capital saqueada<br />
e destruída por bárbaros<br />
a voz gemendo como outrora<br />
os olhos a boca as sobrancelhas<br />
executando movimentos<br />
como outrora<br />
<br />
mas não<br />
não há outrora<br />
<br />
Meus dedos ainda cheiram<br />
cheiram à minha cona<br />
um misto de tardia menstruação<br />
excitação<br />
[e mágoa.<br />
<br />Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-71789523892915723772018-03-26T09:32:00.001-07:002018-03-27T10:03:02.658-07:00264.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img alt="" class="post_media_photo image" data-pin-description="nemfrog" data-pin-url="https://nemfrog.tumblr.com/post/171853306997/the-worlds-best-and-newest-varieties" height="682" src="https://78.media.tumblr.com/0c09203d6c525f955d2e58da97dd2a7c/tumblr_p5kbpl3UTx1tn7avwo1_540.png" style="height: 682px; width: 540px;" width="540" /></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
O gosto da cereja entre minhas frias<br />
têmporas é tudo o que resta dos<br />
amantes que foram como agulhas<br />
eficazes metódicos incalculáveis.<br />
Podemos perscrutar o passado<br />
como a um filho morto:<br />
o seu interior os rins a linfa.<br />
Demorarmo-nos, quem sabe,<br />
nas unhas lascadas ou na leve<br />
curvatura do anelar esquerdo;<br />
tudo isso que enregelado<br />
recorda ainda a legitimidade<br />
tão parca do sangue e do afecto.<br />
Podemos executar tal exercício<br />
como a uma oração diária<br />
procurando compreender como<br />
terá sido possível tanta luz e<br />
tanta dor numa mesma estação;<br />
como terá sido possível que<br />
a falibilidade fosse afinal<br />
o mais certo destino da carne.<br />
Vou agora repartindo pelos dias<br />
essa análise minuciosa<br />
e paulatinamente catalogo<br />
pâncreas, pulmões, salitre,<br />
com o desdém próprio de<br />
quem não vive senão para<br />
desvendar os mistérios da sua<br />
memória. Sem o meu medo,<br />
quem é que eu sou? O que<br />
significa este pedaço de<br />
pele como uma alga seca<br />
onde adivinho estar meu coração?<br />
Quero dizer: o que significa<br />
o horizonte já pálido de um<br />
qualquer amor por demais<br />
sádico e tardio?<br />
Eu sou quem tenho mais<br />
a parte indivisível da mágoa<br />
que sempre trago sabendo<br />
e não sabendo porquê.<br />
Eu quero coisas grandiosas<br />
como a felicidade dos astros<br />
ou o riso imperturbável da<br />
criança. Eu anseio mais<br />
do que esta nódoa junto<br />
ao pulsar da terra que é<br />
também minha e assim<br />
entristece na exacta medida<br />
em que amargura meu sangue.<br />
Na realidade, não há muito a fazer:<br />
eu sempre vivo recorrendo ao mundo<br />
como se ele fosse um filho<br />
que por desmazelo ou deleite<br />
alguém deixara morrer à fome.Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-49698842172130238482017-11-02T06:17:00.001-07:002017-11-02T06:19:18.013-07:00263.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<br />
<img alt="punlovsin:
“ via
pinterest
”" height="640" src="https://78.media.tumblr.com/971c1be119908e99ca0986e79d30d927/tumblr_otvf41BInJ1sodpino1_500.jpg" width="589" /> </div>
<br />
<br />
Entre vós haverá quem salde esta antiga<br />
dívida de mágoa e sono: uma terra desaparecida <br />
que fora ao mesmo tempo raiva e resignação.<br />
Uma mulher que seja má há-de sempre relembrar<br />
a doçura improvável da laranja e através dos seus<br />
gestos de derradeiro desejo havemos de recuperar<br />
o gosto do ventre que perdemos para o olvido.<br />
<br />
Entre vós haverá quem desenterre certos mortos<br />
ah nossos queridos mortos doces mortos<br />
e de novo o tacto entre nós e eles seja uma travessia<br />
exequível; isto é, uma vez mais os lábios encontrando<br />
os antigos lábios agora dura ossada e os olhos alcançando<br />
os antigos olhos agora imperturbável buraco vazio e nos <br />
deleitemos como outrora nos havíamos deleitado[<br />
<br />
Vede bem: uma mulher má saberá morder a lembrança<br />
dessa carne perdida com audácia tal que os próprios mortos<br />
hão-de começar a gemer. Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-26485575156774917792017-04-21T12:52:00.000-07:002017-04-27T11:03:48.520-07:00262.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img alt="blueblackdream:
“Eva Besnyö, Eva et Magda, Hongrie, 1929
”" src="http://68.media.tumblr.com/15ba784852d32b0a7542182eb0721f44/tumblr_mtot3z1AMh1rhm7ijo1_1280.jpg" height="640" width="482" /></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
O mundo foi sempre para mim uma forma de estranheza. Eu que<br />
perscrutei o interior de um corpo como a um vulcão e lhe dei de<br />
comer como se a saciedade fosse uma brincadeira das horas livres<br />
eu desisto da minha impermeabilidade de solo embrutecido e<br />
torno-me uma coisa ainda mais violenta:<br />
<br />
o movimento <br />
dos braços<br />
<br />
do homem<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
[que se está a afogar.<br />
<br />Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-48989516465250702642017-03-08T10:42:00.001-08:002017-03-08T10:45:56.319-08:00261.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuNfl-aG6CORJC_FG_yR_sCvozXS96Ctj6Q1j-KeG7rb1iJwHVp_xzRNvi8jGUMsCWb4HmmTAki_X82Q5s9IRZNDx4LrobDfe1-9nLJvY84zBrLe3IThbhE-z1KXk6eqZprP4UzjYcy-0/s1600/000015+%25283%2529.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="458" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuNfl-aG6CORJC_FG_yR_sCvozXS96Ctj6Q1j-KeG7rb1iJwHVp_xzRNvi8jGUMsCWb4HmmTAki_X82Q5s9IRZNDx4LrobDfe1-9nLJvY84zBrLe3IThbhE-z1KXk6eqZprP4UzjYcy-0/s640/000015+%25283%2529.JPG" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
Completo o arco singular<br />
da tua palavra maldita<br />
e embora o ventre se sacie<br />
como resgatando-se por<br />
dentro de si mesmo<br />
eu entristeço<br />
indefinidamente.<br />
Recuperar o canto<br />
de quem amámos<br />
julgando nunca ter<br />
verdadeiramente<br />
amado<br />
magoa o passado<br />
com aguçadas<br />
flechas de crómio<br />
e naftalina.<br />
<br />
«Tu que foste de entre a sombra<br />
o único e incontornável<br />
lugar de luz»,<br />
escrevi-te um dia.<br />
<br />
E nesse exacto<br />
instante fomos<br />
paulatinamente<br />
escurecendo até<br />
à absoluta<br />
inexistência<br />
de claridade.<br />
Eu quis-te Ermita<br />
guardião do farol<br />
Aodh e Ozric,<br />
e tu foste sendo<br />
com a ferrugem<br />
do uso o que<br />
melhor pudeste ser.<br />
Nomeei-te para<br />
que não te<br />
desconhecesse,<br />
e todavia ter-te-ei<br />
dado um nome ao<br />
lado do teu próprio<br />
ou um nome que<br />
te servia umas vezes<br />
para te magoar outras<br />
tantas. Um nome<br />
onde eu encontrava<br />
a minha resolução<br />
e onde tu te ferias<br />
pelo meu obscurecido<br />
sentido de pertença.<br />
É muito triste o<br />
amor que podia<br />
ter sido, e o amor<br />
que foi sem que<br />
o tivéssemos<br />
definitivamente<br />
reconhecido, olhado<br />
nos olhos, dito<br />
com a veemência<br />
necessária: «És<br />
fruto das minhas<br />
mãos, a tua boca<br />
é um movimento<br />
que torna o meu<br />
nome navegável.»<br />
Estou certa de que<br />
foste possível<br />
junto de uma outra<br />
que era eu sem ser.<br />
Um dia quando o<br />
temor cessar a sua<br />
regular investidura<br />
e a luz seja todo<br />
o espectro visível<br />
e não visível<br />
talvez te volte a<br />
tocar a mão<br />
e a voz<br />
e o momento<br />
em que me<br />
ensinaste<br />
a andar,<br />
talvez volte<br />
a partilhar<br />
a minha cama<br />
com o teu corpo<br />
e só com o teu<br />
corpo<br />
e não mais<br />
nunca mais<br />
com o teu corpo<br />
e os meus fantasmas.<br />
E talvez nessa altura<br />
possamos regressar<br />
aonde somos reluzentes<br />
e sabemos.<br />
<br />Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-81945369403763228232017-03-02T10:45:00.001-08:002017-03-02T10:53:43.248-08:00260.<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://68.media.tumblr.com/0ccdbddd0d07ad9f94e9d7c66e43c3be/tumblr_ojv8zocaRJ1qbdfz5o1_1280.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="464" src="https://68.media.tumblr.com/0ccdbddd0d07ad9f94e9d7c66e43c3be/tumblr_ojv8zocaRJ1qbdfz5o1_1280.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<i>Os homens da minha vida ou o masculin féminin</i></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
A minha vida está cheia de homens;<br />
homens que são homens e homens<br />
que nem tanto. Homens que se<br />
parecem com meu pai, homens que<br />
relembram antes o filho que não tenho<br />
ou homens que ressuscitam meu avô<br />
alcoólico que nunca conheci. Homens<br />
seguidos de homens, uns mais próximos<br />
a bichos, outros a crustáceos,<br />
outros disformes até à imperecível<br />
flexibilidade das algas ou das urtigas.<br />
Olhe para onde olhar há sempre<br />
homens. Homens brutos, macios<br />
fluviais. Homens do tamanho de<br />
um cisco ou homens da exacta<br />
medida do mais ébrio dos meses.<br />
Homens que me querem para saciar<br />
o desejo ou para restaurar o útero materno<br />
homens que pretendem comer-me<br />
até ao osso ou reinventar-me dentro da<br />
inutilidade da paz doméstica. Homens caprichosos,<br />
peludos, homens velozes, homens<br />
sem dentes ou homens melindrosamente<br />
maleáveis. A minha vida está cheia de<br />
homens. Homens em erupção, homens<br />
regressando a casa ou homens coçando<br />
os tomates. E ainda assim não há macho<br />
mais dominante do que este que trago<br />
<br />
[entre as pernas.<br />
<br />Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-26386910868333635122017-02-01T12:43:00.002-08:002017-03-07T08:34:06.595-08:00259.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-CjCDMNR1KT_Ha70vW6jlj_5XRVBVB4wVdBOVknX1zLzYw8yn18iL964u9Pf8riio3x2EgmZgU7FVJzI8MdH6I70ehLQ0mI4mLoPy1mSeCqsjkU3I3i95si5tz_Ff-9Z5BKPpVzi7Myk/s1600/Gerard+Castello-Lopes+%2528Vichy%252C+Fran%25C3%25A7a%252C+1925+-+Paris%252C+Fran%25C3%25A7a%252C+2011%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="520" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-CjCDMNR1KT_Ha70vW6jlj_5XRVBVB4wVdBOVknX1zLzYw8yn18iL964u9Pf8riio3x2EgmZgU7FVJzI8MdH6I70ehLQ0mI4mLoPy1mSeCqsjkU3I3i95si5tz_Ff-9Z5BKPpVzi7Myk/s640/Gerard+Castello-Lopes+%2528Vichy%252C+Fran%25C3%25A7a%252C+1925+-+Paris%252C+Fran%25C3%25A7a%252C+2011%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
O poema inicia-se com tijolo, pedra, não,<br />
inicia-se com sémen, ranho, não,<br />
inicia-se com muitas coisas partidas.<br />
<br />
Atiro o poema contra a cama,<br />
como se ele fosse o amante, meu sinuoso amante,<br />
atiro-o contra a cama e digo: «Come-me».<br />
<br />
Embora ele se mantenha imóvel eu grito uma vez mais<br />
o seu nome sujo que é ter nome nenhum e cuspo-lhe<br />
em cima para que ele compreenda o tamanho do meu tesão,<br />
para que ele sinta como trago húmido o sexo; eu grito-lhe<br />
ferida a ferida quanto é meu o seu pudor, quanto sei<br />
do espaço em si implicado, tudo desconhecendo afinal.<br />
<br />
Rasgo o poema contra a pele, fraca forma de dizer<br />
«Mesmo que não me comas, hei-de saciar o desejo»<br />
e postulo uma lei muito antiga como única forma<br />
possível de salvação. Eu transformo o poema em<br />
grito de criança, e acendo em mim a memória<br />
de um veleiro que durante a noite crê partir, chorando.<br />
<br />
Poema,<br />
repito inexplicavelmente. Poema, hás-de ser de quem<br />
te quiser; hás-de dizer-me porque sofre a bugavília,<br />
hás-de imitar a voz daquele que amei com perturbada<br />
imaginação. Poema, poema, poema. Em ti encontrarei<br />
todos os Homens que morreram de fome, todos os Homens<br />
que morreram de febre tifóide, todos os Homens que<br />
morreram insaciados. De entre tuas duras vértebras<br />
desenterrarei o fígado daquele que ousou roubar o fogo,<br />
e trincá-lo-ei com fúnebre sentido de justiça,<br />
[violentamente.<br />
<br />
Num gesto de incalculável preponderância,<br />
estrangulo o poema. E o poema<br />
finge perecer apenas para exaltar sua inimputável<br />
erecção.<br />
<br />
Abro minha boca em sinal de pronta rectidão<br />
e tomo nas mãos a difícil respiração das letras. Não<br />
há obscuridade bastante para tudo o que se passa<br />
no coração do poema. Porque o poema é vil, o poema<br />
é porco, o poema tem um pénis demasiado pontiagudo,<br />
com o qual eu alegremente firo meu ventre de Madalena raras<br />
vezes arrependida, Madalena em Ascensão pelo<br />
pranto, essa Madalena perigosa para todas as virgens<br />
e santas e até mesmo putas desta terra. Retomo a<br />
imprecisa velocidade da pulsação e reconheço quanto<br />
sal será necessário para todo este corpo; aqueço as têmporas<br />
para que nada queira dizer Grandeza.<br />
<br />
O poema termina, indubitavelmente,<br />
com um grunhido.<br />
<br />Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-83342461814290709742016-12-13T13:46:00.000-08:002016-12-20T13:49:12.803-08:00258.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img alt="vintagephotolibrary:
“ Sebaste: Eglise de St. Jean-Baptiste
”" src="http://68.media.tumblr.com/06377f2658035556470ef8279934ee44/tumblr_ocp518AMF51qf9czro1_1280.jpg" height="325" width="640" /></div>
<br />
<br />
É sempre colérica a dor de uma casa, digo.<br />
Eu nasço e renasço sem cessar<br />
como se procurasse o estado da mais imprecisa identidade,<br />
isto é, um sentido aonde os astros venham morrer.<br />
Há sempre uma beleza de mulher a auscultar<br />
a fraqueza e o vexame e o desdém;<br />
um fotograma tremido dos dias solarengos<br />
dos dias femininos da juventude e do crime<br />
dias de abismal beleza materna, como um alfinete<br />
esquecido numa bainha.<br />
Eu tenho vontade de chorar contra a mesquinha<br />
brutidão, contra a frieza que é fraude e disfarce,<br />
eu tenho vontade de esmurrar o que sobeja<br />
das redundantes águas de Julho.<br />
Pouso as mãos no espelho prosaico e gasto e<br />
todas as coisas se abrem em póstuma fé,<br />
feitas apenas de agudas insinuações com que<br />
eu vou distraindo o pão já duro da semana.<br />
Revisito para adular o tédio o ventre que trago mordido<br />
e sinto o sangue consumir-se dentro da casa,<br />
casa que sofre com uma carne muito acesa e enferrujada,<br />
casa já sem mãe possível.<br />
Fechada a porta, digo, as florestas complicam-se<br />
numa insistência matinal, como querendo dizer:<br />
«Tenho o sexo molhado de pus e velocidade,<br />
como hei-de eu viver com o sexo molhado<br />
de pus e velocidade?»<br />
E é sempre com um olhar cansado, medonho,<br />
que alcanço o que ficou por responder, como<br />
pedra encravada na maldade do sonho.<br />
Se me acariciares as mãos reconhecerás<br />
quantas foram as vezes em que minha boca<br />
se saciou com o pecado, tão suja e imprópria.<br />
Se parares um momento saberás que do delito<br />
não emergiu arrependimento algum, mas só<br />
este breve anseio de ser delirante e cruel<br />
[eternidade fora.<br />
<br />Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-89925268597075303922016-11-05T14:31:00.001-07:002017-12-27T08:37:45.038-08:00257.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img src="https://66.media.tumblr.com/8507c61a647abb7e846c4930de1ea79a/tumblr_odx8vlwCIZ1rh7mdmo1_1280.png" height="388" width="640"></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<i>Numa noite com Marguerite Yourcenar</i></div>
<div style="text-align: right;">
<i><br /></i></div>
É tarde, Alindh. Foi sempre tarde mesmo quando o dia despontava<br />
ainda impreciso, limpo como uma criança que corresse através do corredor de casa<br />
para reencontrar enfim os braços da mãe.<br />
Não há já muito que possamos fazer, se é que o houve algum dia.<br />
Esperarmo-nos serviu-nos somente à fraqueza, iludindo-nos com essa ideia<br />
de nobreza, que era tão alheia e distante de nós mas que, ah, como parecia nossa<br />
de todas as vezes que esperávamos, cegamente, devotamente, um pelo outro.<br />
Não éramos nobres, Alindh. Não era bela a espera.<br />
Mas nada temas. O tempo circunda-se a si mesmo e olvida tudo o mais.<br />
Eis o seu grande ensinamento: olvidar, olvidar sempre, e estareis a salvo.<br />
Ah, Alindh, eu que te amei com uma boca muito oblíqua, eu que te fiz<br />
as mãos sangrar de tanta rouquidão e imobilidade, eu te digo sem demasiado<br />
pesar: é tarde. E os ombros - quem diria? - não se quebram a mais por isso.<br />
Houve, de facto, um tempo, Alindh, um tempo em que o meu corpo<br />
talvez servisse ao teu amor e aos seus néctares tão alucinantes como<br />
o primeiro dia de Verão que partilhamos; não há mal algum em dizê-lo.<br />
Todavia, é tarde agora. E a mim já não me interessa o movimento da<br />
mão que alcança outra mão, nem a perna que por debaixo da mesa<br />
procura outra perna, nessa avidez perigosamente próxima da verdade.<br />
Ah, mas não digamos palavras grandiosas. Bem sei, Alindh, que este<br />
terá sido sempre o meu maior defeito - a propensão para sacralizar<br />
até a mais comezinha das coisas. Terminar com a boca a arder e o coração<br />
despenhado era o habitual fim dessa aventura de grandeza em que eu incorria,<br />
mormente julgando que por ti, mas no fundo, sempre, e somente, por mim<br />
e pelo meu sadismo. Como vês, Alindh, pouco ou nada teceste nesta teia mortífera<br />
que se tornou o espaço por nós dividido, unido, fixado, o espaço interminável da<br />
rubra nudez dos corpos. É tarde, Alindh. Tudo o que restou foi um par de versos<br />
medíocres com que fomos alimentando a iniquidade. Pois partamos, então. O nunca<br />
é sempre um lugar melhor para quem, como nós, brincara tempos a fio<br />
à loucura e à imortalidade. E não é pelo sol se pôr já que devemos permanecer<br />
um pouco mais e aproveitar a noite que lentamente irrompe do seu sossego e nos<br />
visita, relembrando como pode ser terno o leito dos Homens e sedento e redentor.<br />
Não, Alindh, não há já tempo possível. É melhor que os que vamos deixar se<br />
silenciem muito antes de o fazermos - as palavras, as palavras são amiúde cadelas<br />
ciumentas, vingativas; exímios punhais resvalando aonde fere: quantas menos<br />
para recordar,tanto melhor. Não chores, Alindh. Não te constipes. A vida trará<br />
à pele o exacto aroma do entardecer e tudo se confinará ao mais justo dos sonhos.<br />
Depois da miséria os dias enchem-se sempre de melhores e mais ardilosos sons.<br />
É tarde, Alindh, é tarde. Se olhares os campos repararás como foi já, minuciosamente,<br />
sadiamente, recolhido todo o milho.<br />
<br />Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-30820900498668204032016-07-27T06:18:00.001-07:002016-08-10T11:24:22.245-07:00256.<br />
<img alt="punlovsin:
“ René Lalique, ‘’La Benetterie’‘
View from the window
”" src="http://67.media.tumblr.com/aa2ae8d5d83dbfa420a785d2e643d47d/tumblr_nvltxfVUus1sodpino1_500.jpg" height="478" width="640" /><br />
<br />
Os bichos que nos comem o sangue<br />
não cessam a sua maquinal investida. É de noite<br />
e eu grito muito secamente, eu rogo invariavelmente:<br />
«Mãe vem salvar-me das misérias da carne.» Mas a mãe<br />
tarda e a noite avança, avança sempre<br />
veloz e mecânica<br />
como que anuindo com as suas sete cabeças que o fim é soberano<br />
que não, não haverá Deus possível, que o tempo é feito<br />
para se despedaçar bem como o sangue bem como o coração.<br />
Mãe! Mãe! Salva-me deste corpo! E os bichos devorando o que há<br />
dentro de nós e que sendo perto é sempre tão distante, e nós pressentindo<br />
o seu rumor metálico, a sua ávida vontade de nos comer inteiros,<br />
de trazer a insónia para junto do que já adivinhámos roído, podre,<br />
mas que não vemos e por isso temos fé oh! tanta fé. Talvez não seja<br />
já, não seja agora, talvez ainda haja cura para o pus e para o escarro<br />
e para o que quebramos na demanda de palavras demasiado luxuosas. Mãe! Mãe!<br />
Tu que me criaste com esta carne, eu que te fui carcomendo o útero,<br />
eu sei que eu não mereço mas,<br />
Mãe, minha Mãe, salva-me, vem salvar-me<br />
da miséria de existir.Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-91348622963219898992016-07-05T15:46:00.001-07:002016-07-05T17:15:44.639-07:00255.<div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZg6qfyz19_ZK8aoCv3_AZNRUlFDMlpGGbFNWprfcg6MrOPO3nHGdit0IFF8SfhDWws7s4p0Kd2MyXr-OmPOgSLJxFc2XXLpJV83Z51YBYXlFFQxOeGv7g5RXkiRQ6nJ3Au4tsmIYDv5A/s1600/me.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZg6qfyz19_ZK8aoCv3_AZNRUlFDMlpGGbFNWprfcg6MrOPO3nHGdit0IFF8SfhDWws7s4p0Kd2MyXr-OmPOgSLJxFc2XXLpJV83Z51YBYXlFFQxOeGv7g5RXkiRQ6nJ3Au4tsmIYDv5A/s640/me.jpg" width="640" /></a></div>
<br /></div>
<div>
A perfeita harmonia dos dias </div>
<div>
sucedendo-se um a um: </div>
<div>
<br /></div>
<div>
escavar terra </div>
<div>
adentro com estas unhas gastas, escavar escavar escavar</div>
<div>
até ter nas mãos mais sangue que terra, até ter nas mãos</div>
<div>
mais perdão que vontade de matar. E ainda assim, ah!, </div>
<div>
olha só para este mundo, observa o que ele te oferece</div>
<div>
os pássaros, as árvores, as magnólias, as portas que servem</div>
<div>
tanto para fechar como para entreabrir em tímido gesto de</div>
<div>
convite, observa como do ovo se faz galinha ou da galinha</div>
<div>
se faz ovo, tacteia o fogo e sente! sente como ele pode ser</div>
<div>
árido. Mas nunca te deixes enganar: nada disto existe por ti</div>
<div>
nada disto te ama, nada disto fará por te salvar na hora da </div>
<div>
tua morte, tão recatada e sagaz, uma verdadeira mulher</div>
<div>
brilhante, impassível, insaciável, como a primeira que</div>
<div>
terás tocado, que terás amado com tanta fome e vexame,</div>
<div>
ah! a primeira mulher que terás espancado de ciúme </div>
<div>
e cólera, esses instrumentos de cutelaria íntima, a </div>
<div>
mulher que de ter sido tua terá morrido em tuas mãos. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
A perfeita ironia dos dias</div>
<div>
sucedendo-se um a um:</div>
<div>
<br /></div>
<div>
escavar terra</div>
<div>
adentro com estas unhas gastas, escavar escavar escavar </div>
<div>
e de entre a cal da memória não encontrar antigas inscrições </div>
<div>
mas apenas velhos gestos de culpa e rendição. </div>
Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-65849662559121582812016-04-23T17:28:00.002-07:002016-07-03T09:48:37.733-07:00254.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img alt="drowning-in-limbo:
© Lydia Lazarus 2016
" src="http://41.media.tumblr.com/5a16844e596bda52f85dafa131fd2ce1/tumblr_o5yd84EYzM1ua46ono1_1280.jpg" height="640" width="606" /></div>
<br />
<br />
Terei repudiado a fraqueza de Deus noites e noites a fio.<br />
Estendendo-Lhe caridosamente a mão esta mão<br />
que nem sempre quer dizer iniquidade, que às vezes é só breve anseio<br />
procurei salvá-Lo da castração de uma fogueira a arder;<br />
da violência de uma ferida a ser aberta<br />
eu procurei salvá-Lo da sua própria divindade<br />
que é como quem diz: libertai-Vos de todo o acto de criação.<br />
Terei repudiado a fraqueza de Deus as mais das vezes,<br />
carregando-Lhe as palavras mais agudas pelos dias<br />
parindo filhos cheios de maleitas e bastardias, ah!<br />
filhos que haviam nascido de enganos e perfídias,<br />
filhos que não chegaram, sequer, a ser meus.<br />
Oh, Pai, não vês como por ti anunciei numa voz antiga<br />
que o perdão é afinal um lugar possível<br />
não vês como escalei a esquálida montanha da fé sem<br />
voltar meu rosto para trás,<br />
sem questionar tua força apesar desta<br />
carne sucumbível com que me teceste?<br />
E, contudo, como acordo agora tão tardiamente,<br />
acordo a meio do mundo e o mundo todo enfurecido, degolado,<br />
inflamado, pulsando afiado garganta adentro, tenaz,<br />
e o mundo todo contraído na minha cona, fúlgido, a dizer-me:<br />
«És e sempre foste, minha filha, incapaz.»<br />
Terei repudiado a fraqueza de Deus, por isso, agora e sempre.<br />
<br />
<br />Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-58068538854198451492016-03-29T08:16:00.002-07:002016-08-10T11:28:53.887-07:00253.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsx3Q2-XIdOcidP58uw7AJoEnHl3xlgfVdyQMntHfXqnIMf5SEtq-TF9Tx_bpPsdiHfPb6-t52tsRuYf146CtYoAo_djr50gNQa3NXDd7sEhrBALhqVqwF9zM3omgPuuucVpswVf-EG38/s1600/tumblr_o3xpz2w4nT1qgiw5to1_1280.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsx3Q2-XIdOcidP58uw7AJoEnHl3xlgfVdyQMntHfXqnIMf5SEtq-TF9Tx_bpPsdiHfPb6-t52tsRuYf146CtYoAo_djr50gNQa3NXDd7sEhrBALhqVqwF9zM3omgPuuucVpswVf-EG38/s640/tumblr_o3xpz2w4nT1qgiw5to1_1280.jpg" width="426" /></a></div>
<br />
<br />
Era uma hora oblíqua, digo:<br />
Procuro encerrar-me inteira no regaço da santíssima fé,<br />
fé fecunda, fé de medonhos braços,<br />
como quem anuncia: «Filho, o importante é ser paciente<br />
apesar destas costas em abrupta perda.»<br />
Era Agosto ou Setembro e na memória o cão ainda late<br />
como que pedindo perdão por um pecado muito sujo,<br />
quando no fundo ambos sabemos, eu sei, que era só da fome,<br />
e que o pecado fora na realidade o termos o olhar atado.<br />
Era uma tarde como outra qualquer, imensa, vasta, e eu chorava<br />
contra a mesquinha lentidão de algumas palavras. <br />
A tua mão, por volta dessa altura, terá então tocado onde eu era ferida<br />
e verde memória de um dia mais estreito, num gesto de caminho<br />
de perturbada obstinação, de animal em contínua fuga<br />
e o que mais relembro é ainda, e sempre, a forma como,<br />
numa noite de roxa violência e encardidos lençóis,<br />
amarfanhados os rostos pranto e miséria adentro,<br />
pronunciámos Deus como a uma pedra contra os lábios.Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-75720956296526449052016-01-14T16:52:00.000-08:002016-01-15T13:53:13.733-08:00252.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://40.media.tumblr.com/tumblr_m4dt9e3JcM1r2862ko1_1280.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://40.media.tumblr.com/tumblr_m4dt9e3JcM1r2862ko1_1280.jpg" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: right;">
À Cristina.</div>
<br />
<br />
Respira-se porque ainda há o tempo futuro, as vozes da divina providência<br />
a imagem sempre a imagem de uma mãe<br />
recortada por tempestades e fezes e carícias<br />
muito muito antigas,<br />
<br />
Respira-se porque se tem medo, e no vibrátil corpo do réptil jaz<br />
uma virtude de sangue. Eu digo, acerto em cheio no poder<br />
dos astros e canto desalmadamente como quem<br />
<br />
tem vindo a cobrir a verdade de coisas muito ásperas.<br />
Se pedir perdão não é para que chores, nem para que cinzeles a mágoa<br />
<br />
com esse imperfeito gesto de ingratidão. Querer enterrar minha boca por entre<br />
<br />
umas pernas, vertiginosas pernas, pernas abertas para o sal<br />
não me torna fecunda. Eis os que comungam desta fé salobra,<br />
<br />
velho erotismo de uma palavra levada à exaustão. Respira-se porque<br />
<br />
existe o Mundo e a vontade dele, mesmo por debaixo da surdez mordaz<br />
de um coração em delírio. Alimento-me da nocturna presença desta terra, do espaço<br />
<br />
que restou depois da força e do amor, o espaço que eu tenho sim! tenho<br />
entre as unhas e o milagre, esse inferno de se parir<br />
<br />
a eternidade, querido nado-morto.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-13617345055696258502016-01-04T12:40:00.001-08:002016-01-15T09:14:14.800-08:00251.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
</div>
<br />
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://40.media.tumblr.com/9fd1519a9539be0b85c0b513101bb147/tumblr_nbl30cP8v41tn7avwo1_540.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://40.media.tumblr.com/9fd1519a9539be0b85c0b513101bb147/tumblr_nbl30cP8v41tn7avwo1_540.jpg" height="640" width="438" /></a></div>
<br />
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
</div>
<br />
<br />
Hás-de sangrar como se perdesses um filho querido<br />
e o mundo saberá de ti pouco ou nada, o bastante<br />
para não te erguer estátuas nem te dedicar<br />
antigos poemas ternos de sedução e clemência.<br />
Que te doa seres puta, que te doa como esse<br />
amor que foi o pecado mais puro que terás cometido.<br />
E podes até dizer «Estou viva» e por certo estarás<br />
mas dentro, bem por dentro, onde o útero retoma<br />
os limites do paraíso perdido, ratazanas passearão<br />
como se fosses apenas um subterrâneo esgoto de<br />
cimento, subterrâneo esgoto dessa cidade desapa<br />
recida a que Ulisses nenhum jamais retornou.<br />
<br />
Ah, livraste-te de um demónio mas dessa perda floriu<br />
um fantasma pérfido fantasma que te acompanha<br />
os passos e os putedos e as florestas como se não<br />
restasse mais de ti senão este mofo magoado do coração.<br />
<br />
<br />Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-6149982256201522152015-12-15T13:46:00.002-08:002016-01-15T09:16:09.359-08:00250.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img src="http://36.media.tumblr.com/7139f6fe95b0620127eea7520c882a8b/tumblr_nyvi5hPnqG1qigaa4o1_1280.jpg" /></div>
<br />
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
</div>
<br />
Há muito tempo atrás havia um cigarro que queimava<br />
oh! queimava noites e noites a fio<br />
como se anunciasse cheio de temor<br />
«Deus vem aí»<br />
<br />
A vida é também feita destas coisas.<br />
O engano na porta ao lado que deliberadamente abrimos;<br />
o castanheiro que não cessa de sangrar como se esperasse.<br />
Algumas pessoas, ouço, enterramos no estômago<br />
para que a digestão seja uma folha de eucalipto<br />
- o mesmo da infância que nunca mais foi, que nunca mais<br />
teve como ser nesta fímbria exausta do corpo e da consolação.<br />
Deus virá, sim. No infernal tempo da memória, virá,<br />
enquanto o cigarro nos dedos queima, queima, até se apagar.<br />
<br />Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7713840431058056501.post-28936166471940257722015-12-12T06:38:00.000-08:002015-12-12T06:41:27.480-08:00249.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<br /></div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img alt="punlovsin:
via Flickr
..
" src="http://40.media.tumblr.com/972c7ca847baac985532f09624011406/tumblr_nvg82lA1ax1sodpino1_1280.jpg" height="441" width="640" /></div>
<br />
<br />
<br />
Eras,no fundo,<br />
um vale de gestos inacabados,<br />
de onde brotava<br />
<br />
juntamente com o crepitar do fogo<br />
a imensa ilusão de felicidade<br />
<br />
com que eu alimentava a esperança<br />
e a bravura de morrer.<br />
<br />
<br />Mariahttp://www.blogger.com/profile/01860665313104059959noreply@blogger.com0