sábado, 21 de janeiro de 2012

162.


- Observamos as valsas de coração - que são demasiado controversas - e ficamo-nos sempre muito retraídos, muito presos a nós. 
- Acho que nos dói muito ver peitos a dançar quando a alma permanece lá, do outro lado do quarto, estática. São ambiguidades demasiado pesadas para nós e para estas quatro paredes.
- Mas...
- Depois, devagarinho, como quem vai conquistando o nevoeiro, começamos também nós a dançar ao som das palavras que dizemos um ao outro.
 - ...Como quem tem medo mas não se deixa parar. 
- Torna-se incontrolável esta diluição muscular e começamos também nós a dançar com as valsas de coração - que outrora careciam de alma - e são sempre nesses instantes de união disforme que me apaixono por ti.
- Transformamo-nos em aderentes e em todas essas vezes os nossos corpos ficam-se colados, prendem-se e misturam-se e nós deixamos de ser nós por um bocadinho. 
- Deixo de saber de mim.
- Trespassamos as fronteiras do eu, as singularidades perdem-se.
- Condensamos e somos sujeitos a chapadas monstruosas de desgastes sentimentais. Acabamos meios mortos, meios dormentes e cheios de nódoas negras nos joelhos. 
- No dia seguinte acordo dorido. Recordo-me - de entre algumas falhas e cortes - do quão bonita ficas quando te balanças. Ouço-te suspirar e sei que carregas o mundo inteiro na tua fragilidade de menina. Volto a apaixonar-me...

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