terça-feira, 19 de junho de 2012

184.


Perdi os dedos na noite em que contei o infinito pela primeira vez. Acho que nessa mesma noite te perdi a ti também, por já não ter como não te largar ou pela decepção que foi não saber contar. Lembro-me de te saber de cor os contornos e de adormecer abraçada às histórias que me contavas ao coração. Que amor faz-de-conta era esse, o que nos cobria a alma e cegava os sentidos, apontando-nos uma única direcção: a nossa. Mas fomos morrendo e foste-te indo embora, devagarinho, de malas prontas à meses, já a cheirar a maresia morta, a meu espírito em estado terminal. Não chorei na noite em que te fizeste de longe, nem na seguinte a essa. Só mais tarde me descobri a chorar, de coração inacabado, as contas que nunca havia terminado. Hoje sei que partiste e contigo levaste o infinito. Nunca mais voltei a contar.

                                                                                                               Margaret,  22 de Fevereiro de 1988 

9 comentários:

han disse...

divinal, é certo.

Anónimo disse...

simplesmente lindo*

Anónimo disse...

Ao leres a frase em baixo responde-me imediatamente e sem pensar com a primeira coisa que te vem à cabeça.

"O meu coração está cheio de nuvens."

May Pacheco disse...

tenho começado a apreciar muito blogs como o seu, talentos como o seu. Simplesmente estou encantada com este texto, lindíssimo. Beijos

Anónimo disse...

sabes do que eu gosto mesmo? De janelas abertas, grandes e antigas.

Anónimo disse...

És um monte de esterco com pernas prepotente.

Anónimo disse...

Cada vez que escrevo a pensar em ti acontece-me exactamente isto: "Lembrou-se de que beijara todos os pontos do seu corpo menos os pés, e isso entristeceu-o."

Anónimo disse...

e tencionas passar o resto dos teus dias a fugir?

Anónimo disse...

"Que se passa em Lisboa?
que se passa em Madrid?
que se passa em mim e em ti?

Do outro lado do mar
em Cabo Verde no Brasil
ou na Coreia que se passará?

A verdade ignora-se
evita-se
e cada hora fecha-se com um sorriso
nem alegre nem triste
sorriso
simples acordo
do homem com a sombra
a sombra que cresce e o devora
num dia a dia favorável aos fantasmas
e a quem lucra com eles


Soluções sabemos todas
mas em vão dizemos Amor
Aventura Poesia

Afinal as palavras somos nós
e a nossa esterilidade


Crescei e multiplicai-vos
também já cá se sabia

Crescei no medo
multiplicai-vos no desespero

Um pelo que sobreviva
valerá por vinte cidades


Com o hálito
já desfiz alguns bailes
Afinal seria bem fácil
dominar o mundo


Mas dança em sossego
musa em férias
aventura-te um pouco
musa em férias

Agora
só preciso de azul
de todo o azul cobarde
que o céu possa oferecer-me"

dorme bem ou então bom dia!