quarta-feira, 27 de junho de 2012

185.



O coração acontece-me
Quando dentro do céu há sombra
e dentro dessa sombra há uma escuridão maior
que todas as noites.
E, no entanto, o coração acontece-me também
nesses trágicos dias feitos de claridade
em que teu nome são todas as cores.

12 comentários:

Anónimo disse...

"O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito,
Cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sme medo, sem pudo,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!

O amor é amor - e depois!?"

maria joão moreira disse...

e é tão rara a sensação... essa do coração acontecer! que bom, que o coração te aconteça inúmeras vezes, na penumbra da noite ou na claridade do dia!

Anónimo disse...

Maria, sabes o que és? És uma cor sem nome, tão virgem que nem me atrevo a descreve-la pois temo que se o fizesse deixarias de existir. Como se a minha existência dependesse desse mistério, do mistério que guardas sem saber. Dessa cor misteriosa. Não foste tu que pediste para ser guardiã do mistério mas és, e tudo o que isso significa. Acho que as minhas palavras andam vazias de conteúdo, cheias de ausências. Mas aqui estão aquelas que te quero dizer: "Com a ausência dessa cor que não existia mais e que eu procurava entre o preto e o branco, em algum lugar dos movimentos esquecidos mas que estavam decompostos na geometria dos espaço, o espaço quebrado com música ausentes." Não é maravilhoso? É daqui, do CLARO de Gluber Rocha. Podes vê-lo aqui http://www.youtube.com/watch?v=f2izio6dIaw . E se eu penso que te conheço desde sempre, então este filme vai-te agradar.

Vais-me encher as mãos de poesia? Toma atenção para que sobre algum espaço para ti.

Anónimo disse...

Quando voltares a duvidar da humanidade pensa assim: "Mas o que importa é transformar o mundo!" Até logo.

Anónimo disse...

mesmo o coração mais dorminhoco acorda

Anónimo disse...

Lembro-me que fazia frio. Um tempo mesquinho zumbia nos ouvidos. A mansidão dos dias felizes. Chovia desesperadamente como se a terra precisasse de um novo dilúvio. O meu corpo aquático e o teu nome flutuando no horizonte. Soletrei o nome mas não fazia sentido em voz alta. Então guardei para mim, talvez um dia as almofadas dos dedos necessitassem de um afago desconhecido. Tremias quando te conheci, vestias um vestido leve de verão que não combinava com o dia chuvoso de primavera. Esperavas por alguém e supus que fosse pelo sol pela forma como estavas vestida, mas já lá estavas sentada há muito tempo e parecias pensar apenas no frio que fazia. A espera tornou-se secundária. O espectáculo dos teus braços nús. Eu também esperava e foi livro que trazias que me decidiu. Um livro é um motivo tão bom como qualquer outro. Despi o casaco e tapei-te os ombros sem pedir autorização. Ficava-te um bocadito grande mas tu és daquelas mulheres que qualquer trapo te fica bem. Agradeceste a atenção e foste-te embora deixando um pequeno sorriso em cima da mesa. Descobri então que o nome que trazia, fazia meses, no bolso era o teu porque ao juntar o sorriso e o nome, lado a lado, vi que formavam um par perfeito. Voltei a separá-los e perderam novamente o sentido. Percebi tudo, só podias ser um anjo! Ou então um ser onírico criado à imagem da vénus de milo. Como anjo ias perdendo penas por onde passavas e como estátua perdias uma perna ou um braço, coisas que curiosamente te tornavam ainda mais bela. Em ambos os casos a indiferença que mostravas pelos bocados de ti, espalhados pelo mundo, fascinava-me. Fazias propositadamente ou nem reparavas nisso? O certo é que levaste o meu casaco e ainda não mo devolveste. Voltei à minha vida porque se chapéus há muitos, casacos também os há, e não pensei mais nisso. Esqueci-me é que quando se dá qualquer coisa a uma mulher, dá-se também um bocadinho da nossa liberdade; um contrato secreto assinado à escondidas por demónios ancestrais. Passei a viver meio livre, meio angustiado, totalmente ausente, encontrando algum consolo ao pronunciar o teu nome antes de me deitar. Ainda fiz algumas tentativas para te encontrar. Mostrei a toda a gente que conhecia o retrato que fiz de ti, inspirado pelo teu sorriso, e perguntei se te tinham visto ou mesmo encontrado mais um pedaço de ti mas em vão. É provável que o meu erro esteja em procurar-te vestida com o meu casaco. Chovia e fazia frio quando te conheci, um dia parecido ao de hoje, um dia assim-assim. Nesse dia vivia em liberdade e não pensava em ti, hoje a liberdade tem outro nome e estou preso a ti. Agora que esta liberdade dourada bate vermelha nas mãos, pergunto-me se és janela aberta ou uma porta fechada?

Anónimo disse...

E eu descobri que sou um violino nas tuas mãos.

Anónimo disse...

E agora que vou eu escrever, quando todo o gelo que sou se tornou água correndo pelos vales cavados por nossas mãos? Antes me mantivesse circunscrito às margens do rio mas elas são pequenas demais para a força que embate nas paredes das minhas veias. O que me dás é convulsivo, é uma ausência de limites materiais, é o questionar do próprio amor. E nada disso me satisfaz verdadeiramente porque eu me revolto contra o que escrevo, como se os nervos temessem trair-te a qualquer momento. Ou talvez temam que eu descubra que o que recebo de ti é absoluto e intangível como o azul do céu. Porque se é por ti que espero todos os dias ao acordar – um amanhecer limpo e quente -, tudo o resto é o amor: o sol, o vento, as árvores e a natureza ignorada. Começo a entender a causa dos apertos, o peito inchado e sem ar; é o céu que nasceu cá dentro, estendo-se da ponta dos alvéolos pulmunares até aos limites das paredes do estomago, enchendo quando me tocas que nem balão de ar quente e esvaziando desiludido quando de longe só chega a distância. Brilhará o sol no coração? Isso pode explicar o calor e a alegria que pulam cá dentro. Maria, isto é teu, a tua criação, e como tal dou-to, é teu, para que reines. Não sobre mim mas dentro de mim porque o que vive aqui mexe-se com as tuas ordens, totalmente independente do meu querer. Digo-te, também, que não lutarei mais porque sinto que caminhamos vitoriosos num campo onde atiramos pedras aos pássaros e aos lagos para dar a ilusão que a batalha continua, como duas crianças que levam a brincadeira demasiado a sério. E isso é belo! Agora escalo ao cimo da maior montanha e faço um montinho de pedras onde escondo o sonho que me ofereceste, para que permaneça puro no lugar da pureza, uns centímetros acima desta terra estranha e maravilhosa para que seja apenas nosso e de mais ninguém. E neste lugar abandonado, longínquo e altíssimo, ainda não violado pela civilização, olho em volta e penso que todas as palavras perderam a sua utilidade, excepto uma: amor; e pertence-te.

Anónimo disse...

Maria ajuda-me, e se os pássaros comessem as estrelas?

Anónimo disse...

Ninguém vai acreditar, quando eu contar, que agora vivo com uma pena no lugar do coração. Preciso agradecer pessoalmente à artista que foi capaz de realizar tamanha proeza, sem provocar dor e sem deixar cicatriz. Dar-me-ias esse prazer?

Anónimo disse...

Acredito

Unknown disse...

ai, amo