sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

201.


Vê como se chega perto o vazio
e desfaz teu coração em mil flores.

10 comentários:

Anónimo disse...

Não podem ser assim tão maus. Castanho-terra, queimado pelo sol. Cultivando a dor, à espera. À espera da semente.

Falas das profundidades e das alturas, criando um fosso intransponível entre o passado e o futuro. Como tocar-te, se te fazes frágil e impenetrável? Sentir-te tão perto e encontrar uma parede de vidro. Fria. Pões assim tão alta a tua virtude, para que a protejas pondo em risco a tua própria vida? Que maravilhosa catástrofe quando um dia as ondas estilhaçarem a prisão onde vives.

As tuas mãos são frias, para o seu coração ser tão quente?

Anónimo disse...

Diz-me tu. Tenho a certeza que já tens uma ideia sobre o assunto.

Anónimo disse...

Eu nada possuo, mas tenho um medo terrível de te perder.

Anónimo disse...

E precisei de vinte e seis anos para perceber isso.

Anónimo disse...

Maria Luís, Marianne Renoir, Irene, Anna Karina. Serei Pierrot Le Fou, Mathieu, Godard... Um dia perfeito, leve, imaterial. Um cigarro perfeito: há tanto que não fumo um. Levar comigo a recordação de um suspiro. Não mais procurar abrigo por saber que estou contigo. Tatear uma árvore, fechar os olhos e sentir a tua mão. Porque os relógios do mundo esperam ansiosos pelo nosso encontro. Assim que não der mais. Assim que as palavras desistirem de lutar. Assim que o sol, os espelhos e as janelas... Saberás. Agora dorme, sonha bem, que hoje velo por ti. Não dormirei, não farei mais nada – que mais posso fazer? -, não me mexerei nem um centímetro. Receio falhar o momento, a emoção, receio trair o meu coração. Que trairei, com todo o gosto, a uma ordem tua.

Anónimo disse...

Quantos homens perdidos? Quantas mulheres perdidas? Serão dignos, dignas, de usarem o título de homem e mulher? Duas almas que se encontram e caimos no piroso. Ai, que lógica essa. O teu cepticismo por vezes magoa. O teu sentido prático por vezes fere. E já reparaste que ele te trai frequentemente? Chega a ser adorável, incompreensível, tão teu. Para que corres para longe se o coração te aponta o sentido inverso? Mas não mudes! Que tarefa ingrata, a de termos que mudar a nossa personalidade para encaixarmos. E encaixar aonde? Para pertencer. Novamente, mas aonde? Aqui. Dir-te-ei que é aqui. Não é uma má resposta, pois não? Conheces a história da mortal Psiquê que casou com Eros e tiveram um filho chamado Prazer? Psiquê era uma mulher tão bela que fazia inveja à própria deusa do amor, Afrodite. Para a castigar ordenou a Eros que a alvejasse com as suas flechas para que se apaixonasse por um ser monstruoso! Mas, que admirável acidente, Eros picou-se numa das suas flechas e apaixonou-se ele pela bela Psiquê. Mais tarde ela foi levada por um palácio cheio de luxos onde todas as noites fazia amor com o deus do amor (!) sem o saber, porque ele se tornava invisível para não enfurecer a mãe. O ciúmes eram imensos. E assim Psiquê vivia na mais deliciosa das venturas, amando, mas sem saber quem. Um monstro pensava, de olhos castanhos. Até que um dia convidou as irmãs a visitar o seu palácio e as invejosas nem queriam acreditar nas riquezas e na sumptuosidade do palácio onde vivia a almadiçoada irmã. Então elas insistiram para que Psiquê da próxima vez que fosse ter com o seu, que levasse uma vela para descobrir quem afinal ele era. Assim o vez. Com uma lamparina de azeite foi ter com Eros; e qual não a sua surpresa ao descobrir que ele era belo! Belo como os sonhos! Mas desastrada, deixou cair uma gota de azeite a ferver sobre a pele imaculada do jovem deus, fazendo-o acordar desvairado. E agora? Ela tinha prometido nunca ousar ver a cara do seu amente! Então Eros desatou a correr, gritando: “O amor não sobrevive sem confiança!” Fugiu e Psiquê ficou sozinha, sendo a obrigada a provar através de difíceis tarefas que ainda o amava. Não é engraçada, a estória? Não achas que Eros tinha razão? Sabes, li há muito tempo o insustentável leveza do ser e como Tomas disse, eu também digo, para te explicar o que parece inexplicável: “Muss es sein? Es muss sein! Es muss sein!” (Tem de ser assim? Tem de ser! Tem de ser!) É a minha verdade. E perguntas: E depois? Depois tudo fará sentido? “O amor não sobrevive sem confiança!” Maria, saberemos, alguma vez, alguma coisa, senão aquilo que contamos e que sentimos? Também deves ter olhos castanhos. Que mais precisas de saber para acabarmos com a pirosice?

Anónimo disse...

Esqueci-me de referir que Psiquê também levava uma faca para matar o seu amor, caso este fosse um ser monstruoso e feio. Modifica um pouco as coisas. É provável que sentisse alguma curiosidade em saber quem lhe queria tanto; pois, apesar da nossa imaginação ser fértil e, tantas vezes, reconfortante e encantadora, também é incerta e leva-nos à descrença, à insatisfação e ao desamor. Como alguém disse: “Os nossos pensamentos são copiados das coisas presentes e o nosso poder de sonhar não vai tão longe quanto se diz.” Mas não creio que ela duvidasse do amor. Como duvidar de alguém que lhe oferece o luxo, o prazer, a satisfação, a compreensão, a paz, uma casa, um abraço? Acho que ela sentiu-se em falta para com as irmãs. Afinal, eram família; talvez elas tivessem razão, talvez os outros tenham razão. Ouvimos tanta coisa! Tanta, que se torna difícil descernir o certo e o errado. Penso que Psiquê foi vítima da dúvida; e não lhe condeno a curiosidade mas sim o de põr em causa a fonte da sua felicidade. É certo que a natureza do homem e da mulher é contraditória; mas se na balança que nos orienta damos mais peso ao mal do que ao bem, ou mesmo que, infantilmente, tentemos encontrar um equilíbrio entre os dois – como se houvesse equilíbrio entre duas coisas irreconciliáveis -, então não passamos de uns parvos. Subitamente tudo se complica. Por isso, não te condenes à partida; não alimentes a indecisão. Olha atentamente para a última coisa que escreveste; e repara que tu própria respondes às tuas perguntas. Chego mesmo a pensar em ficar em silêncio, para que te ouças bem, para que me ouças. É tudo tão claro. Mas tu já és do silêncio, não és? Do silêncio e da luz. Ambas coisas que nos preenchem. Amor, luz e silêncio. Formas puras. Perfeição! Ai, que estas noites em branco começam a parecer filmes do Antonioni; outro que parece entender-nos. E eu, tal como as suas personagens, começo a sentir a angústia do que vem; de estar preso na teia e, por inércia, não conseguir sair dela. Para finalmente desistir, e não querer sair dela. Não querer mais nada. Num mundo de Sim, gritar Não! Não quero. Não. Grita comigo: Não quero! Por isso, sorri, meu amor. Não és assim tão especial para os outros. Para mim és. És. Penso que este tipo de pensamentos só nos chega por volta das quatro da madrugada. Quando tudo dorme. Tudo, excepto o "Tem de ser assim? Tem de ser! Tem de ser!" O que é que nos ocupa os espaços em branco senão a doce fatalidade? O que é que te ocupa os espaços em branco? Agora.

Anónimo disse...

Porque haveria de temer uma menina que bebeu demasiado café?

Anónimo disse...

Exageras. Não podes ser assim de tão longe. Longe, mas não essa lonjura que me queres dar.

Anónimo disse...

Sei sim, M. Quando se é de longe torna-se muito difícil o regresso. A melancolia das alturas, sabes? O sonho corre à nossa frente e gostamos tanto que assim seja. Como um rio. A capacidade para amar está mal distribuida e o amor também. Estou desolado.