sábado, 26 de abril de 2014

233.



Posiciono os astros na exacta medida da ausência. 
Embalde enumero nomes de aves para acender a noite
mas a sombra alastra-se rapidamente
nesta fluidez precária da paixão.
Chamo o que existe de constelação no voo da ave - talvez o rapto
nocturno
de umas mãos que se encontram após acenarem
                                                                               «Não, não mais te tocarei.»
Inclino o irregular eixo de simetria que nos divide para que ele queira
também dizer vertigem.
Não deixo que o coração ataque a memória: não, a noite não se iluminará
sem que antes os dedos se sujem de terra e sangue.

Não, não abrirei as portas que por força alguém trancou.

5 comentários:

João disse...

a tua escrita cresceu... De algum modo já não sinto a mesma dor e tristeza de antigamente quando passava aqui. Ou fui eu que mudei? Fico feliz por ver que continuas por cá. Continua, descortina-te, vais ter sempre um fã, pequena.

Maria disse...

Aprende-se a manejar as palavras de acordo com o coração. Aprende-se, sobretudo, a manejá-las subtilmente quando o que querem dizer tem muita mágoa. Obrigada por apareceres. Sou assídua no compasstotheblue e aguardo o dia do regresso, também tu terás sempre uma fã.

Iolanda disse...

um texto com uma força vibrante, para mim um espelho, obrigada por me teres feito sentí-lo. parabéns

Anónimo disse...

É verdade, antigamente a tua escrita estava imbuída numa tristeza que parecia - pelo menos a mim - leitor assíduo do teu blog que estavas a morrer para o papel.
Como se a vida te maltratasse e na poesia deixavas o que guardavas de tão negro.
Mas hoje estás de volta, vejo, iridescente. :))

Maria disse...

Uhh baby, baby it's a wild world.