Repara: a casa existe
como uma memória afiada
desses tempos em que foste
sim, talvez, francamente feliz
mas, sobretudo, e apesar disso, miserável.
Lastimo-me por ti, amiga.
Estavas fadada a grandes coisas;
o amor de alguém é um lugar tão difícil,
o poema como uma valsa por terminar,
a lua revelando o que só o açúcar promete.
Mas nada disso te valeu.
E agora, sim, a casa. A casa
que te recorda a aspereza da iniquidade: o sangue perdido
tão ingloriamente que dá dó,
o sangue, amiga, que julgaste ser prerrogativa da paixão
e que mais não é senão a fraca inutilidade da juventude.
Podia ter sido diferente, pensas. Podias não ter quebrado.
E a casa, o raio da casa, sempre relembrando
placidamente relembrando
a violência, o ciúme, a infâmia.
Lastimo-me por ti, amiga.
Tens agora a cabeça posta nas ossadas que ficaram
depois da ruptura
e que são afinal teu mais confortável e tíbio leito.
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