segunda-feira, 25 de julho de 2011

138.


Achamos sempre que temos de demonstrar piedade onde ela não existe e amor onde só restam as memórias. Achamos sempre que as elasticidades emocionais sabem a cetim e que nunca nos esbofeteiam em cheio o coração. Somos todos terrivelmente neutros, terrivelmente vazios de maresias e de movimentos excessivos. Retraímo-nos em nós e no tempo que não queremos gastar, mas que acabamos sempre por deitar fora. Caímos e vamos embora vezes e vezes sem conta só porque nos sabe pela vida regressar. Só porque as saudades, ainda que nos pareçam sempre fardos demasiado pesados, são das poucas coisas capazes de nos fazer sentir vivos. No fundo, gostamos delas. Gostamos delas sem que tenhamos tempo de contar a verdade a nós mesmos, sem que digamos a alguém as certezas que nos abraçam a alma e a forma árdua como gostamos das pessoas sempre que as sentimos. Creio que oscilamos entre extremos que se repeliam e que se amam como se nada mais belo neste mundo existisse. Somos brincadeiras em assuntos sérios e sabemos sempre como triturar os laços sentimentais. Sabem, passamos demasiado tempo das nossas vidas a ser os nossos próprios inimigos.

14 comentários:

Anónimo disse...

Eu (pessoalmente) acho que sou um grande inimigo meu!

Anónimo disse...

consegues dizer sempre tudo tão bem. dominas as palavras.
(roubei a tua música, era muito bonita)

Lipincot Surley disse...

Chegou-me a mensagem em forma estranha de recado.
Todas as nossas hesitações e retraimentos que tão bem escreveste. O cinismo humano, a hipocrisia e talvez a vergonha e medo (não censurável) de querer sempre trazer emoção e brincadeira a uma vida que seria amarela e séria.
Não consigo deixar escapar um texto teu. :)
Boas férias *

opistia disse...

pura verdade... infeliz verdade de quem se atou em medo e ficou, sem que tivesse decidido... apenas não foi capaz de ir...pura verdade de que tocou quem é seu inimigo...

A verdade nua e crua disse...

Odeio dó... Acho que o único a quem peço piedade é o senhor jesus cristo...
Já falei sobre saudade, nem sei se foi aqui,mas a única saudade boa é aquela quando se sabe que pode-se voltar a ver a pessoa a quem se chora, fora isso, é muito injusto!

Abraço!
@juhhouse
verdade_nua_e_crua@live.com

Emmeline disse...

Fruto do destino? adorava sabe-lo. venho sempre cá ver se precisas de alguma coisa, e às vezes quem precisa de acordar sou eu e é nestas palavras e no meio do silêncio do meu quarto que me sinto como.. nada. sem nada,as tuas palavras retiram-me toda a força, para apenas me obrigarem a pensar. é terrível. mas perfeito, como se fosses um porto seguro de lições de moral sem dor

Espiral disse...

Gostei tanto, tanto deste texto....

obrigada

Emmeline disse...

quem me dera a mim que todas as chapadas que sinto, fossem como as tuas tão doces. oh maria,e não há melhor aconchego, em alturas exactas, dos que as tuas palavras

opistia disse...

e eu de te ler :) obrigada

Emmeline disse...

oh:) as tuas palavras sao que nem abraços

Lipincot Surley disse...

Maria, tenho andado sem inspiração e vontade de me agarrar às teclas do computador e escrever. a vontade por vezes surge, mas não havendo o computador por perto torna-se complicado. mas brevemente deve surgir qualquer coisa... vou-me contentando com leituras e mais leituras nos actuais diminutos tempos que passo por aqui... Aqui o above it é paragem obrigatória, inspiração constante e tempo de ler textos que perdi de tempos em que as surdas e os seus telhados não existiam..
ouvindo o teu blog silencioso deixo-te uma sugestão pessoal que penso poder combinar com alguns dos textos que tens por aqui :) http://www.youtube.com/watch?v=qUJYqhKZrwA

este comentário é mais pessoal, portanto, sente-te à vontade para o não publicares

até já Maria

LS

Maria Francisca disse...

só me apercebi agora que precisava mesmo de ler um texto teu.
sentia a falta do teu blog, maria.

Maria Francisca disse...

o que achas, maria? :)

nés, disse...

este blogue é um grande pedaço de amor. sai à autora, não é?