E depois despia-se em frente ao espelho como se fosse necessário estar nua para conseguir sentir-se sua por um bocadinho. Esperava que a alma lhe falasse e lhe dissesse que estava ali, que não ia a lado nenhum e que, mesmo que nem sempre desse pela sua presença, dali - de dentro do seu corpo coberto de nódoas negras - nunca iria sair. Era como se traição fosse um adormecer de espírito, um esquecer de essência, um fechar de olhos constante, remetendo-a a lugares distantes e frios. E não queria, não queria de todo desfazer laços interiores; ficar sem si quando já pouco ou nada lhe restava. Sabia que nunca se é realmente possuidor de outro ser senão de nós mesmos e ver-se desalmada parecia fazer o mundo dela encolher e ser pouco mais do que migalhas. Ver-se assim, em gestos pesados e antagónicos, com pouco de amor e demasiado de vazio, era matá-la quinhentas vezes ao acordar e mais outras tantas durante o resto do dia. Era afagar-lhe a tristeza de forma a que ali estivesse sempre presente. Um esquecer de nós, um desprender de nós, era o seu monstro escondido no armário. Era o seu grande e irremediável medo.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
147.
E depois despia-se em frente ao espelho como se fosse necessário estar nua para conseguir sentir-se sua por um bocadinho. Esperava que a alma lhe falasse e lhe dissesse que estava ali, que não ia a lado nenhum e que, mesmo que nem sempre desse pela sua presença, dali - de dentro do seu corpo coberto de nódoas negras - nunca iria sair. Era como se traição fosse um adormecer de espírito, um esquecer de essência, um fechar de olhos constante, remetendo-a a lugares distantes e frios. E não queria, não queria de todo desfazer laços interiores; ficar sem si quando já pouco ou nada lhe restava. Sabia que nunca se é realmente possuidor de outro ser senão de nós mesmos e ver-se desalmada parecia fazer o mundo dela encolher e ser pouco mais do que migalhas. Ver-se assim, em gestos pesados e antagónicos, com pouco de amor e demasiado de vazio, era matá-la quinhentas vezes ao acordar e mais outras tantas durante o resto do dia. Era afagar-lhe a tristeza de forma a que ali estivesse sempre presente. Um esquecer de nós, um desprender de nós, era o seu monstro escondido no armário. Era o seu grande e irremediável medo.
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6 comentários:
gostei tanto maria, gosto tanto de tudo o que nos escreves
Alma pequena, aperta tanto o coração
um beijo na alma também para ti :) e obrigada
Imaginei-a interna. Núcleo duro preso - tenuemente - a forte e fino fio de nylon. A balançar com os ventos e humores. A negar por momentos o seu irremediável medo mas a acabar sempre por o assumir que no fundo - era realmente portadora desse medo e de si.
Imaginei-a interna. Núcleo duro preso - tenuemente - a forte e fino fio de nylon. A balançar com os ventos e humores. A negar por momentos o seu irremediável medo mas a acabar sempre por o assumir que no fundo - era realmente portadora desse medo e de si.
Olá :)
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