quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

161.




Ontem o sol pôs-se mais tarde e a minha orquídea machucou-se um bocadinho. Perguntei-lhe porque fica sempre tão triste quando o dia se esquece de ir embora, mas não me chegou a responder. Olhou o céu e senti-lhe os olhos chorar as lágrimas que não se lhe escorregaram na face, mas na alma. Sentada na areia - ao seu lado! - dei-me conta do abismo em que ela havia sido engolida e das vertigens que me esbofeteavam a pele ao vê-la assim - distante e pesada e retraída. Retraída - havia-lhe retraído cada músculo do corpo aquela ausência de céus vermelhos amarelados. No fim do precipício que era a falta de gestos e a carência de amor, disse-me: "Hoje a poesia veio tarde. Não há nada que doa mais do que quando a poesia vem tarde." Ficamos o resto do tempo unidas pelo silêncio do torpor, percebendo que possuímos duas pernas e um nó na garganta sempre que os pores do sol chegam atrasados.

6 comentários:

Emmeline disse...

oh maria e tu? sempre tão bonito aquilo que de ti dás.

Anónimo disse...

As minhas palavras aqui, tornam-se pequeninas. As tuas Historias vivem dentro de mim! Adorável Maria, sempre. Tão grande!

Lipincot Surley disse...

que sensibilidade! de facto, és das minhas leituras preferidas!

nés, disse...

hoje estava com saudades tuas e lembrei-me que aqui encontro-te sempre. és gigante.

claire disse...

que lindo,que lindo

Lipincot Surley disse...

o que cada um valhe, figurado por outros, é sempre dúbio e sinal de controvérsia. no entanto - há tanto na tua escrita que me reconforta, que me faz querer ler mais, escrever mais. por vezes preciso de fugir da figura de estudantes universitário despreocupado e dedicar-me uns momentos à escrita (terapêutica ou consolidadora de maleitas? - ainda estou por descobrir!!?). bem, indo ao que interessa, quando é preciso ler e ver pedaços de alma recorro aqui - e como a nés disse encontramos-te sempre!
beijinho
Lipincot