terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

207.


Regressar a casa sem mãos e encontrar ainda em minha pele
um pedaço de tacto esquecido. Dentro das rótulas a tua maresia.
As ondas retomam agora a praia e nos olhos
fulmina o sal
que sempre anuncia a chegada de um grande abandono.
Adiar-te a cólera, o perfume, o amor
para outra noite.
Para uma outra onde não ranjam os joelhos a cada passo de dança;
para uma outra onde as paixões se consumam e se devorem e se ardam
sem carbonizarem o coração. Regressar ao desamparo do corpo
contigo entalado nos cabelos.
Encontrar dedos antigos, memórias de outros acidentais suicídios e
reorganiza-los novamente, lá nos ossos, nessa ternura demente do amor
quando faz as malas e certo dia parte para um coração
defunto. Regressar à reminiscência de alguns tiroteios
com as veias cheias da ausência de teus olhos na minha íris e
comodamente, como um filho perdido, alojar tua cegueira nos meus braços. Perder
a carne no entorpecimento das palavras quando amanhecem com enganos
incrustados às sílabas e entristecer. Não existe vida nessa condição planetária de uma
estrela que falece e ainda o céu sem chorar sangue. Regressar lentamente ao inverno das coisas tácitas e
despedir-me de ti em incêndios, ruelas, prédios, desertos e iluminações de rua
e sentir sempre teus punhos esmurrarem-me o silêncio.
Dentro das fissuras da respiração: a tristeza fulminante de duas bocas
que se encontram para o adeus.

3 comentários:

efeito placebo disse...

Nunca, outrora, me detiveste tanto em teus versos e em teus lábios que admiro encarnados....

han disse...

perdi-me aqui, completamente, apaixonadamente.

han disse...

oh, how i wish i knew.