segunda-feira, 6 de maio de 2013

215.


Há qualquer coisa de intransponível
nos teus dedos.
O violino a ecoar nas articulações;
em que lugar de tuas mãos se incendeia a memória?
Coração de marfim, rebentações na areia dos corpos.
A dada altura de nossas vidas
nos traem.
E o mundo rasga-se a sopros, com a mesma quietude
e vexame de um homem que no meio da multidão,
se urina.
Ainda o violino - sempre é cedo demais quando anoitece.
Há qualquer coisa de falso no tacto que não
ofereces
vestígios de nitroglicerina;
pegadas de celofane;
ausência.
A dada altura de nossas vidas
acontece-nos a estação errada:
julgar adormecer em primavera e acordar
com blocos de gelo incrustados ao coração.

5 comentários:

han disse...

céus.. palavras com que me deitarei esta noite.

Iolanda disse...

mais uma vez, maravilhoso..

Pedro Simão disse...

Maravilhoso.

Sou novo leitor. Ainda não tive oportunidade de ler tudo, tudo, tudo, mas as tuas palavras deixam-me boquiaberto.

Muitos parabéns! :)

ines disse...

deixas-me sem ar

Anónimo disse...

A ultima parte deste poema, que desabafo. Como o sinto. Obrigada.