segunda-feira, 3 de junho de 2013

218.


Parto contigo para orientes desconhecidos, povoações de insectos metálicos e hemorragias de coração. Parto contigo: assim se refaz essa antiga profecia dos corpos; resgatar a solidão pelo lado mais frio da noite e estiolar. Em quantos suspiros se desfez teu abandono?
Levo comigo o pouco que me resta de pele e sangue, 
                                                                                 alguns livros e pó.
O deserto nos aguarda como um adolescente que acaba de descobrir o inebriante fogo do etanol.
 Demoradamente
                         reescreves teu necrológio
para espantares a morte e conservares assim horas onde eu te possa aguardar ainda,
com a mesma devoção e vexame de um condenado à morte. Parto
contigo para longínquas tempestades de areias, amadurece em mim a aridez prateada do desamparo.
Espero-te com dedos metalúrgicos; "Antes doar meus membros a sismos do que deixar que o formol
parta contigo em meu lugar", digo-te.
Alguém acende a noite nas calçadas e na memória alojas as últimas velharias. 

4 comentários:

Iolanda disse...

deslumbrante...

Anónimo disse...

Olá, será que me podia dizer o nome da música que dantes tinha no seu blog? Nunca consegui saber o nome da música nem a cantora. Não sei se ainda se lembra da música, oxalá que sim. E já agora, adoro os seus textos, tão complexos!

Maria disse...

Será a wild goose chase dos dark dark dark? Creio que foi a última a cá estar. De qualquer forma, obrigada por ma recordares. E obrigada também pelo elogio, tornou esta quinta-feira cinzenta um bocadinho mais suportável.

Anónimo disse...

É exatamente essa! Lembro-me de passar dias e dias a cantá-la por causa de vir aqui ler-te. Espero que este sábado não seja cinzenta como quinta-feira.