quarta-feira, 8 de março de 2017

261.




Completo o arco singular
da tua palavra maldita
e embora o ventre se sacie
como resgatando-se por
dentro de si mesmo
eu entristeço
indefinidamente.
Recuperar o canto
de quem amámos
julgando nunca ter
verdadeiramente
amado
magoa o passado
com aguçadas
flechas de crómio
e naftalina.

«Tu que foste de entre a sombra
o único e incontornável
lugar de luz»,
escrevi-te um dia.

E nesse exacto
instante fomos
paulatinamente
escurecendo até
à absoluta
inexistência
de claridade.
Eu quis-te Ermita
guardião do farol
Aodh e Ozric,
e tu foste sendo
com a ferrugem
do uso o que
melhor pudeste ser.
Nomeei-te para
que não te
desconhecesse,
e todavia ter-te-ei
dado um nome ao
lado do teu próprio
ou um nome que
te servia umas vezes
para te magoar outras
tantas. Um nome
onde eu encontrava
a minha resolução
e onde tu te ferias
pelo meu obscurecido
sentido de pertença.
É muito triste o
amor que podia
ter sido, e o amor
que foi sem que
o tivéssemos
definitivamente
reconhecido, olhado
nos olhos, dito
com a veemência
necessária: «És
fruto das minhas
mãos, a tua boca
é um movimento
que torna o meu
nome navegável.»
Estou certa de que
foste possível
junto de uma outra
que era eu sem ser.
Um dia quando o
temor cessar a sua
regular investidura
e a luz seja todo
o espectro visível
e não visível
talvez te volte a
tocar a mão
e a voz
e o momento
em que me
ensinaste
a andar,
talvez volte
a partilhar
a minha cama
com o teu corpo
e só com o teu
corpo
e não mais
nunca mais
com o teu corpo
e os meus fantasmas.
E talvez nessa altura
possamos regressar
aonde somos reluzentes
e sabemos.

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