quinta-feira, 2 de março de 2017

260.




Os homens da minha vida ou o masculin féminin

A minha vida está cheia de homens;
homens que são homens e homens
que nem tanto. Homens que se
parecem com meu pai, homens que
relembram antes o filho que não tenho
ou homens que ressuscitam meu avô
alcoólico que nunca conheci. Homens
seguidos de homens, uns mais próximos
a bichos, outros a crustáceos,
outros disformes até à imperecível
flexibilidade das algas ou das urtigas.
Olhe para onde olhar há sempre
homens. Homens brutos, macios
fluviais. Homens do tamanho de
um cisco ou homens da exacta
medida do mais ébrio dos meses.
Homens que me querem para saciar
o desejo ou para restaurar o útero materno
homens que pretendem comer-me
até ao osso ou reinventar-me dentro da
inutilidade da paz doméstica. Homens caprichosos,
peludos, homens velozes, homens
sem dentes ou homens melindrosamente
maleáveis. A minha vida está cheia de
homens. Homens em erupção, homens
regressando a casa ou homens coçando
os tomates. E ainda assim não há macho
mais dominante do que este que trago

   [entre as pernas.

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