Amor, devias vir.
Uma árvore é, por vezes, razão suficiente.
Em dias mais oblíquos, a memória da sua seiva
a retinir em nossa pele ainda morena
ainda pronta para a vida,
num Verão possível e perdido.
Mas o amor demora-se, sim, como
reiterando a sua dissonância,
que é a sua forma de ser fugaz cruelmente.
Em certos dias, demora-se o mais
que já esperamos
[sempre.
Éramos frescos, sem dúvida.
Na algibeira havia um pedaço de pão
e uma noz a morder contra a fome.
Havia, sobretudo, a ingenuidade
dos cães vadios,
do seu latir persistente,
do doce modo como posicionam o seu corpo
apesar de faminto
apesar de gelado.
Eu queria um destino mais belo, sim.
Os rapazes partem para Julho como
para uma grande promessa.
A juventude vai-se deteriorando,
parecendo-se cada vez mais
com um vidro quebrado.
As mãos já não possuem
virilidade alguma. As tulipas vermelhas
aonde ficamos despenhadas
como na nossa própria menstruação.
Os rapazes partem ainda, partem sempre.
Amor, devias vir. Devias procurar
o âmago aonde late outra coisa
aonde sou outra coisa
mais afoita a ti e às tuas medidas.
Mas tu desconheces. E desconhecendo-me,
sem saberes, amas-me menos.
É sempre menos o dia em que acordámos,
mesmo depois da paixão
e do frio aconchegado em dois corpos.
Saber olvidar, por certo.
Dar um passo que não seja em falso.
Observar o vidro
a forma como se quebra
como se quebra
em nossas mãos.
Amor devias vir,
[se não fosse já tarde.
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