domingo, 6 de novembro de 2011

150.


E foi nessa altura em que me apercebi do quão de plasticina era feita. Foi naquele curto espaço de tempo - entre a saída de casa e a entrada no pequeno jardim - em que entendi o jeito como tudo facilmente condensava e desaparecia, deixando para trás apenas a percepção de autocolante prestes a descolar. Ali, rendida ao mundo e à bofetada que era estar sentimentalmente neutra, dei-me conta do pó que se tinha depositado na alma. Ohhhh, e era tanto!
Diante de mim habitava o precipício em que havia sido arrastada sem nunca me ter dado conta. Tinha chegado à derradeira conclusão que pouco mais era capaz de me manter acordada, ficando então emaranhada na inércia, que nem novelo de lã. E era um torpor constante que se depositava em mim e em tudo o que me envolvia, era a falta de um algo cujo nome se perdera há muito tempo atrás.
E, por fim, assim fiquei - deitada na cama de rede, olhando as orquídeas que o frio murchou, percebendo que não há nada pior neste mundo do que amores diluídos.

Margaret, Dezembro, O Jardim

9 comentários:

Emmeline disse...

Oh maria, monstrinho és tu... mas do amor. Sempre, sempre do amor. Não é que estive bem bem bem há pouco por aqui a tentar encontrar o teu blogue para te deixar um beijinho na alma e simplesmente não encontrei porque não estou no meu pc e o url não está gravado, e depois porque não consigo ser tua seguidora. e tu... nem digas que não és mágica!

claire disse...

és fantástica na escrita

Anónimo disse...

não fiques triste. é melhor assim para mim :)
só não te sigo com o meu outro blog porque o blogger não me deixa aceder ao teu blog. eu sou menor e agora não dá para alterar na conta :/
mas eu vou continuar a visitar-te a partir desta conta, porque gosto muito de ti e deste teu espaço :')
Beijo e até breve*

Lipincot Surley disse...

Regresso propositadamente para te ler e não me desiludo. Nunca. Volto a encontrar almas da mesma plasticina que vejo ser um marco vincado em ti - maleável, sujeita a tantas pressões..?!
A inércia e o pó poderia parecer-lhe um grande fardo, mas não a impediu de sair ao jardim. Não a impediu de reparar nas orquídeas (murchas é certo!) que enfrentaram orgulhosamente as temperaturas que devagar as assolaram. Tiveram coragem, ou até mesmo, falta de alternativas - mas enfrentaram-nas! O sol há-de vir, novas flores hão-de erguer-se e todo o pó há-de escoar precipício abaixo fechando-o naquele lugar (e provavelmente abrindo-o em outro!).

:) espero que estejas bem Maria.

Beijinho

Lipincot Surley disse...

nem a propósito, publiquei há minutos!
vou ficar atento à Margaret então.

adoro cá vir e retirar tudo o que conseguir dos textos, que nem verdadeiro larápio

beijo

Emmeline disse...

oh a música... não é tão c i n t i l a n t e? faz-me adormecer Claire.

Emmeline disse...

é que a claire faz me gostar de viver. minha princesa das palavras quentinhas. tambem tens claire em ti

Lipincot Surley disse...

Pois, se todos fossemos aço estanque o mais provável era não existir alguém que chorasse, que escrevesse, que realizasse e que nunca expressasse o que sentia, não criando assim uma onda de contágio aos próximos!
Agora, comemoramos a nossa maleabilidade?

Emmeline disse...

e eu ja te disse que gosto muito de ti?