domingo, 2 de março de 2014

229.


Maleável é a existência de papel que me
adormece
no leito de um fruto outonal.
Quebrar um copo e investigar os ossos como doentes
infecciosos.
Um filho perdido é um idioma demasiado difícil
argiloso
corrosivo.
O sono. O meu sono
tem coisas com muitos dedos dentro.
Mas a cama e os passos constroem-se com plástico
          - o mesmo que usamos para a arte da fala -
Não há crime na corcunda de uma ave
                                                               migratória
que não seja perdoável, dizes. Não há
sonolência que não escolha amarelecer no fogo.
Revejo a tua antiga pele; agora a que tens me nada conta. Cantarola
umas quantas flores
sem perfume e eu com demasiado
olfacto pendente me abandono em lugares
velhos, cheios da persistência das dolorosas recordações de
alfinete.
Fosses tu ainda essa tulipa que tantas vezes trazias
nos braços
como um perdão
e eu jogasse ainda ao berlinde com a tua sombra
como nessa tarde de Novembro.


                                                                                                                Margaret, 13 de Fevereiro 1982

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