segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

251.





Hás-de sangrar como se perdesses um filho querido
e o mundo saberá de ti pouco ou nada, o bastante
para não te erguer estátuas nem te dedicar
antigos poemas ternos de sedução e clemência.
Que te doa seres puta, que te doa como esse
amor que foi o pecado mais puro que terás cometido.
E podes até dizer «Estou viva» e por certo estarás
mas dentro, bem por dentro, onde o útero retoma
os limites do paraíso perdido, ratazanas passearão
como se fosses apenas um subterrâneo esgoto de
cimento, subterrâneo esgoto dessa cidade desapa
recida a que Ulisses nenhum jamais retornou.

Ah, livraste-te de um demónio mas dessa perda floriu
um fantasma pérfido fantasma que te acompanha
os passos e os putedos e as florestas como se não
restasse mais de ti senão este mofo magoado do coração.


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