À Cristina.
Respira-se porque ainda há o tempo futuro, as vozes da divina providência
a imagem sempre a imagem de uma mãe
recortada por tempestades e fezes e carícias
muito muito antigas,
Respira-se porque se tem medo, e no vibrátil corpo do réptil jaz
uma virtude de sangue. Eu digo, acerto em cheio no poder
dos astros e canto desalmadamente como quem
tem vindo a cobrir a verdade de coisas muito ásperas.
Se pedir perdão não é para que chores, nem para que cinzeles a mágoa
com esse imperfeito gesto de ingratidão. Querer enterrar minha boca por entre
umas pernas, vertiginosas pernas, pernas abertas para o sal
não me torna fecunda. Eis os que comungam desta fé salobra,
velho erotismo de uma palavra levada à exaustão. Respira-se porque
existe o Mundo e a vontade dele, mesmo por debaixo da surdez mordaz
de um coração em delírio. Alimento-me da nocturna presença desta terra, do espaço
que restou depois da força e do amor, o espaço que eu tenho sim! tenho
entre as unhas e o milagre, esse inferno de se parir
a eternidade, querido nado-morto.
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