domingo, 1 de abril de 2012

174.


É o som da chuva que ainda não caiu que me lembra como a assimetria do mundo pode ser perigosa. Dar valor a coisas literais, que dor é ser-se quando já só há espaço para o esquecimento. Estendidos no jardim, do outro lado de nós, todos os alter egos que nos mentiram. Sonhamos então de pés pousados no chão, que insustentável se torna o mundo quando se sonha de pés pousados no chão. Amaina o temporal do eu que nunca foi, cessa a chuva que encharcou o espírito e, mesmo assim, que desprender monstruoso de nós se sente.  Descobrimos que a efemeridade é uma mentira na inércia das manhãs sonolentas, sem pele nem alma, apenas com as réstias do que poderia ter sido e nunca foi. Impingimos demasiadas margens por não sabermos derreter solidões. O som do que não se é regressa. Perdemo-nos mais um bocadinho.

7 comentários:

Anónimo disse...

não sei, é perfeito

ines disse...

impingimos demasiadas margens por não sabermos derreter solidões... maria que bom

Anónimo disse...

oh, tens de conhecer a maria porque não tem mesmo explicação.

Pedro disse...

Sentava-me nessa mesinha com vista para a praceta, a ver a chuva cair. Um copo de um bom tinto, e a companhia do som do ranger do soalho, enquanto uma bela rapariga se desfila pela sala.

Beijos com charme #174

Emmeline disse...

Mas eu, encontro te para sempre em pedacinhos de amor. prefiro assim.

Lipincot Surley disse...

Maria,
Que perfeito.
Tenho andado tão rígido, sem conseguir descascar as camadas que devia e deixar plasmar pelos meus dedos o que quero e sinto... Volto aqui e tiras-me sentimento, alivias-me a carga. Eu e o meu coração [literário] agradecemos-te! Que nunca pares. Que te siga sempre :)

Anónimo disse...

um suspiro inesperado que me saiu da alma e que por acaso veio em teu nome. guarda-o, é teu!

http://sometimesibuildwalls.blogspot.pt/2012/04/como-um-fantasma-surges-do-nevoeiro-das.html